sábado, 5 de junho de 2010

COMER BEM, UMA DÁDIVA. COZINHAR BEM, UMA OBRIGAÇÃO!


Depois de um momento de muito trabalho, confesso que ainda estou no olho do furacão, me sentindo como uma meia na maquina de lavar, já que abrir um negócio, qualquer que seja o ramo dele exige trabalho, suor e muita dedicação para que ele dê certo, do início ao fim. No entanto, irei me dar ao luxo a três momentos só meus de agora em diante. O 1º será reservado à prática de esportes “Mens sana in corpore sano”, o 2º de cunho sabático, servirá para eu estudar sobre tudo que acho necessário, meu idioma, literatura e sobre meu ofício (cozinhar) e o 3º será um tempo livre para escrever. Isso tudo sem deixar o bistrô de lado.


Sendo assim me despeço do passado e dou oi ao futuro retomando a escrita aqui no blog e no meu projeto pessoal www.umacolherdeprosa.blogspot.com, onde hoje já postei dois textos bem bacaninhas.

Mas vamos ao que interessa, esse post!

Antes de começá-lo, deixo claro de que as opiniões que aqui estão são minhas e não tem intuito de desmoralizar ou atacar ninguém. Por isso, se você se sentir ofendido é por que não entendeu a idéia do texto.

Nos dois últimos posts, falei sobre o RESTAURANTE e sobre o MENU/CARDÁPIO, continuando essa trilogia, hoje iremos misturar os dois, tratando mais a fundo e de uma maneira menos professor de história. Falaremos sobre o ato de comer e sua intelectualização. Quem nos levará por esse tema é Bonacho um parente contemporâneo de Gargantua e Pantagruel, embebido no humor, com colheradas generosas de sarcasmo e fartos nacos de glutonice.

Vamos lá.

- Dêem-me um generoso pedaço de leitão assado, regado com um bom mel de especiarias, purê de mandioquinha o quanto baste, legumes “frescos”, algum queijo forte, pães e uma boa manteiga. Ah! Não se esqueça de uma dose gentil de Cerveja, disse: – Cerveja, não água com cevada!

Com toda certeza esse seria meu último pedido antes de ser levada à morte, na forca, guilhotina ou o quer que seja. Não pediria clemência, piedade ou liberdade, mesmo por que, quem antes de mim pediu, também não obteve, por que comigo seria diferente? Além do mais morrer de barriga vazia deveria ser considerado burrice, não se sabe pra onde vai, o que vai ter lá e partir de barriga vazia! Com certeza, ao menos para mim não estaria em questão.

Que me atire a primeira pedra quem não pensou que seria uma idéia boa ao menos morrer saciado, podendo levar consigo as impressões de uma boa refeição. Vale aqui lembrar que não como para viver, vivo para comer.

Por que se afastar ou tentar suprimir esse prazer? Que coisa mais chata e sem graça as pessoas que vêem o ato de comer como simples fato de se nutrir. Concordo que devemos moderar, mas, o que seria das refeições se tivéssemos que apenas nos nutrir e não se alimentar. Veja bem! São duas coisas bem distintas. Explico melhor, um cão come para nutrir se, um leão come para nutrir se, ou vai dizer que seu cão olha o cocho com cara de: Hum! Hoje tem ração à Milanesa, e o Leão, já viu leão com cara de quem saboreia uma zebra, lembrando de um suculento bife de ancho maturado. Não, com certeza não! Mas, a nós humanos nos foi dado a dádiva de sentir prazer na alimentação, melhor dizendo, nós conseguimos reconhecer o prazer em se alimentar. Por isso, nós não comemos apenas para nutrir se, mas sim para alimentar corpo e alma. E os que não concordam que parem de ler por aqui e peguem sua porção diária de ração humana e vá comer pra lá. Aos que como eu, sabem que COMER BEM É UMA DÁDIVA, juntem se a mim.

Me impressiona o sem numero de formas de dietas, cada uma mais louca que a outra, da sopa (confesso que fiz essa, passei a semana mais mal humorada da minha vida), a da proteína (meu fígado geme só de pensar), tipo sanguíneo (???), cada uma pior que a outra. Mas, o que irrita mesmo são as pessoas que seguem esse padrão, ficam desfiando inúmeros elogios, por que emagreceram tantos quilos com a dieta tal. Cara se criarmos agora a dieta da bala Juquinha, onde a pessoa só possa comer 10 balas Juquinha por dia e beber água ela também emagreceria. Essas pessoas doidas varridas olham uma simples banana e são capazes de dizer todos os elementos nutricionais presentes é praticamente a Larousse da nutrição. Para eles o sabor é mero acaso, me lembra o filme Matrix, onde vi rostos “sorridentes” comendo uma pasta branca, insossa e insípida, que servia para? Nutrir, apenas. Esse foi um dos primeiros espantos da personagem do protagonista, ao acordar no “mundo real”. Ah! Lembra do dissidente do filme, o que ele pede para o agente Smith? Um bom bife e uma taça de vinho! Saboreou cada naco como se fosse o único, chegava a suspirar.

Agora chato mesmo são os “ENOENTENDIDOS”, os “GASTROBOBOS” e os “GOURMECHATOS”, estes sim, são de dar no saco. Eles são fáceis de identificar, são aqueles que vão ao restaurante, e que nunca provaram uma boa azeitona, e exigem o azeite com até uma X taxa de acidez, bebem o vinho que está na revista do momento e mesmo nunca tendo provado cacau ”in natura”, tem a audácia de dizer que o vinho tem notas de cacau, como é que ele se lembra de um gostou que nunca provou? Esses são simplesmente repugnantes, não tenho a menor paciência pra eles, o pior é que são muitos e fazem força para intelectualização da comida e do ato de comer. Caramba! Quão ridículo é degustação de azeite. Você já viu ou soube de um Espanhol, Português ou Italiano, praticando tal heresia? Sabem quando um azeite é bom e pronto, o comem. Degustação de requeijão, argh! Que medíocre, prova as cegas de picolé, pra determinar, sabor, persistência de sabor e retro gosto... Retro gosto em picolé? Faça o favor! O único retro gosto que aceito em um picolé é GOSTO DE QUERO MAIS e chega.

No fundo eles só ajudam para que o mercado de gastronomia se prostitua em busca de falsos títulos, produzindo comida sem fundamento, caráter e sem passado quiçá futuro.

É só olhar, como é fácil ganhar prêmio com azeitonas líquidas, espumas de “foei gras” o cara nunca comeu nada igual, talvez nunca mais coma nada igual, e é claro que vai ficar maravilhado. Agora arranque suspiros com um bom feijão, um molho para massa descente, faça-o lembrar da comida da infância com um simples angu bem feito, isso é cozinhar o resto é invencionice. Concordo que possa e deva existir a gastronomia TECNOEMOCIONAL, MOLECULAR, enfim, eu mesmo já me interessei por alguns modos de preparo, mas, para tudo há limites. Não podemos partir do pressuposto que a desconstrução de uma matéria sirva de base para a construção de um prato. Brincar com texturas e sensações é totalmente correto, mas transforma alimento em algo que ele não é acho um crime.

E o pior é que nós bons comensais é que ficamos reféns de restaurantes e restauraters inescrupulosos que vendem uma comida ridícula, que precisa de uma infinidade de blá, blá, blás na descrição do cardápio para te confundir a um preço extorsivo, já que não seriam capazes de pedir aos seus cozinheiros, para lhe preparar uma refeição de verdade.

Pense nisso da próxima vez que sair pra comer, o que você leu no cardápio é realmente o que lhe serviram? Qual a última vez que comeu “espuma”? Saberia dizer claramente a diferença entra azeite “extra virgem” e o ”outro”?

Alimentemos nosso corpo e alma, não sejamos tolos, devemos ser moderados com razão e nos alimentar bem. Suprimir o prazer de comer é matar uma parte de nós, é apagar um traço da nossa seleção natural.

COMER BEM, UMA DÁDIVA. COZINHAR BEM, UMA OBRIGAÇÃO!

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Sebastiana